Minha relação para com a cidade de São Paulo é de amor e ódio numa tênue linha que separa o tédio do pouco caso. Mesmo assim ainda é possível dizer que fiquei marcado de forma positiva, de um jeito ou de outro.
Tudo começou assim, como quem não quer nada, com um simples comentário num blog qualquer. Discussões mais acaloradas sobre assuntos diversos exigiam outros meios de comunicação mais precisos e discretos. Primeiro veio o e-mail, depois o Messenger e daí para o telefone não demorou muito. Papo vai, papo vem, horas diárias ao telefone até que, parafraseando Renato Russo, “veio mesmo de repente uma vontade de se ver”. Nos encontramos pontualmente ao meio dia de um sábado ensolarado na Estação São Bento do Metrô para um programa tradicional: o pastel do Mercado Municipal. Satisfeita a necessidade fisiológica que o horário impunha, mas não a de passarmos mais horas juntos, o passeio prosseguiu numa caminhada descontraída pelo centro até a Praça Coronel Fernando Prestes, ao lado da Estação Tiradentes do Metrô. Os arredores do local são recheados de curiosidades históricas que talvez poucos conheçam, como a arcada de pedra que já foi um presídio feminino no início do século XX na fachada de um banco e o fato de o Parque da Luz ter sido o primeiro Jardim Botânico de São Paulo, entre outras.
Aquele mês de Janeiro estava particularmente quente e uma parada para uma cervejinha trincando de gelada se fazia necessária num barzinho aconchegante na parte de trás da Pinacoteca e com vista para o coreto do parque. Tudo era motivo de comentários, desde a vegetação até os passáros e o contraste com a selva de pedra que se estendia logo ali depois dos portões. O coração batia forte e o sol já começava a se pôr. Ainda não havia “lua de prata no céu”, mas “foi assim que a conheci” e “um beijo aconteceu”. O mundo poderia ter acabado ali que não me importaria. Naquele momento eu era a pessoa mais feliz que já existiu.
Há 10 anos