sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Lacinho

Estudei o Primário e o Ginásio (atual Ensino Fundamental) numa escola que mais parecia um quartel. Só faltávamos ser obrigados a bater continência para a diretora. Uma das funcionárias (a tiazinha do portão) quase chegava a fazê-lo, simbolicamente falando, de tão puxa-saco e dedo-duro que era. Apesar da rigidez disciplinar e das cafonices esporádicas, foi lá que aprendi a ser gente. Todas as comemorações cívicas eram lembradas em suas respectivas datas antes do início das aulas, com cada turma cantando uma música temática. Cantávamos o Hino Nacional todas as quartas-ferias (envergonho-me profundamente por ter esquecido a letra) e o hino da escola todas as sextas.
Não sei qual foi a intenção, mas qdo estava na 3ª série, a coordenação pedagógica inventou de nos enfeitar com uma porcaria de um lacinho cor de merda, preso sobre o bolso da camisa com um daqueles alfinetes de pressão. Pasmem! O uniforme era camisa social branca, com o logotipo da escola bordado sobre o bolso, calça social e sapato marrom, um porre. Ah, e o blusão era amarelo mostarda. Chique no último! Lá pela 6ª ou 7ª série a escola se tocou do ridículo e alterou o uniforme para algo mais confortável, semelhante aos uniformes escolares de hj.
Voltando para o lacinho, todos os alunos o usariam no 1º mês daquela modinha sazonal. No segundo mês, ele mudaria para amarelo ouro para os que se destacassem de alguma forma, melhorando notas e comportamento. Por fim, os que se destacassem mais o trocariam para marrom (traduzindo, aqueles que fossem catequizados e virassem umas múmias nerds). Fui usando aquela porcaria e levando a ideia de girico em banho-maria. Qdo chegou o 2º mês, duas de minhas primas ganharam o lacinho amarelo por terem melhorado algumas notas (e isso pq elas falavam mais do que taquara rachada). O lacinho marrom ficou para o piá mais imbecil e puxa-saco da turma, aquele que tirava 9,5 ou 10 em tudo, falava “amém” para o que a professora dizia e dedurava os colegas.
Nunca fui um aluno exemplar com relação a notas, mas elas tbm não eram ruins. Digamos que oscilava entre 7 (média para passar) e 8 em sua grande maioria. Às vezes rolava alguma coisa abaixo da média, nada preocupante, e tbm um 9 ou 10. Diferentemente do que possam pensar, eu tbm nunca fui do fundão. Sempre sentei no meio, às vezes na frente, e era introspectivo – pra não dizer tímido, coisa que ainda sou. Apesar disso tudo, continuei com o mesmo lacinho cor de merda. Naquele segundo mês eu descambei pra putaria. Não usava mais o treco na camisa (a tiazinha do portão vivia me aporrinhando pra usar aquela merda ou iria me dedurar pra coordenação), minhas notas caíram um pouco, meu comportamento piorou e ainda dei uma ombrada no “Pônei Maldito” do lacinho marrom por ter feito menção de me caguetar para a professora (O “piá de prédio” passou o resto da tarde chorando feito uma gazela). Pelo menos aboliram o treco no 3º mês, acredito eu que por terem criado (ou evoluído) monstrinhos e focos de resistência nas outras turmas.