Na ocasião do “sequestro” ao ônibus 174, a televisão, como veículo de comunicação de massa, provou, mais uma vez, a que veio. Ela não estava lá exatamente para informar. Em parte até estava, mas o real propósito era disputar audiência naquela que foi chamada “a guerra da representação”. Vence quem mostrar a violência como ela é, da maneira mais nua e crua possível (de acordo com as possibilidades do horário de exibição), mas no geral todos nós perdemos. O episódio foi tratado como informativo, mas o que a TV exercia na verdade era seu papel de entretenimento de massa ao caricaturar o indivíduo Sandro como um monstro que deveria ser eliminado a qualquer custo (e aguardando ansiosamente pelo fato), ao mesmo tempo em que se eximia da responsabilidade pelo evento ter alcançado aquele ponto. Naquela ocasião estava em moda, digamos assim, mostrar a outra realidade do Rio de Janeiro, das favelas, da disparidade social associada à geografia urbana, do estereótipo “negro pobre é ladrão”, e o ato fantástico do menino Sandro ganhou destaque imediato nas telinhas do país inteiro, com repercussão ao resto do mundo.
Não digo “fantástico” pelo ato em si (afinal os próprios colegas do crime organizado o condenaram por ter agido pelo lado mais fraco ao barbarizar pessoas humildes como ele, passageiros de ônibus, e por ter atirado em uma das reféns quando notou a ação iminente da polícia), mas sim pelo desfecho trágico quando ele sequer tinha intenção de tomar ação dentro daquele ônibus, e por esse motivo a palavra sequestro está entre aspas no início deste texto.
Indiretamente a TV atribuiu a ele o papel de algoz sem se dar ao trabalho de pensar o que ou quais razões o levaram àquele ato desesperado e basicamente o julgou e sentenciou no desenrolar da “trama” sem qualquer chance de defesa, afinal era óbvio o que aconteceria a ele (como aconteceu) quando as câmeras se afastassem.
Ao assistir ao documentário “Ônibus 174”, parte de mim defende o Sandro hoje, como indivíduo, por ter tido uma ideia de quão difícil foi sua vida, mas se estivesse envolvido de alguma forma com o ocorrido ou se minha única fonte de informação fosse a deturpação televisiva (e espero imensamente que os outros veículos a afoguem o quanto antes), com certeza diria que o desfecho, ao chegar morto à delegacia, foi mais do que merecido.
Não digo “fantástico” pelo ato em si (afinal os próprios colegas do crime organizado o condenaram por ter agido pelo lado mais fraco ao barbarizar pessoas humildes como ele, passageiros de ônibus, e por ter atirado em uma das reféns quando notou a ação iminente da polícia), mas sim pelo desfecho trágico quando ele sequer tinha intenção de tomar ação dentro daquele ônibus, e por esse motivo a palavra sequestro está entre aspas no início deste texto.
Indiretamente a TV atribuiu a ele o papel de algoz sem se dar ao trabalho de pensar o que ou quais razões o levaram àquele ato desesperado e basicamente o julgou e sentenciou no desenrolar da “trama” sem qualquer chance de defesa, afinal era óbvio o que aconteceria a ele (como aconteceu) quando as câmeras se afastassem.
Ao assistir ao documentário “Ônibus 174”, parte de mim defende o Sandro hoje, como indivíduo, por ter tido uma ideia de quão difícil foi sua vida, mas se estivesse envolvido de alguma forma com o ocorrido ou se minha única fonte de informação fosse a deturpação televisiva (e espero imensamente que os outros veículos a afoguem o quanto antes), com certeza diria que o desfecho, ao chegar morto à delegacia, foi mais do que merecido.