sábado, 6 de junho de 2009

Midgard

O acampamento estava agitado, faltando pouco para o alvorada. Os primeiros raios solares, daquele que seria mais um curto dia de inverno, já clareavam o horizonte. O corpo e a cabeça, doídos e anestesiados pela ressaca da noite anterior em comemoração à batalha vencida. O enjoo era semelhante ao da viagem náutica que nos trouxe da escuridão nórdica, companheiros de armas, escudos a postos, machados ao alcance das mãos. Sabia que aquela nova batalha seria ainda maior que a da noite anterior, pois nossos inimigos receberam reforços do leste durante toda a noite.
Àquela altura eles já sabiam que vim para ficar.
A neblina já se dissipava, os corpos ainda demorariam a entrar em estado de putrefação. O frio gélido os conservaria durante esta campanha.
Três saraivadas iniciais para cada lado. Comandei meu exército pela vanguarda e avançamos juntos. A batalha foi árdua. Tombamos pela espada, um por um, mas não antes de levarmos centenas, milhares, conosco. Essa é a maior honra que um guerreiro pode almejar, tombar em batalha, e não velho e fraco ao lado de uma fogueira.
O próprio Odin recebeu-me nos portões de Valhalla e convidou-me a sentar ao seu lado. Serei lembrado, pelos meus feitos, pelos meus filhos e pela minha tribo e meu nome ecoará pela eternidade.
O despertador soou pontualmente às 6h da manhã. Desliguei-o, incrédulo de que o horário estava correto e pensei: “Que porra! Já?”. Queria dormir mais, muito mais. Arrumei-me para o trabalho, conformado de que aquela realidade não mais existia.
Já deteriorados pelo tempo, possuir apenas fragmentos de meu escudo ou o punho de minha espada já seria de grande valia para suportar este novo destino.
Foi-se a época em que lutávamos por provisões que nos manteriam vivos durante o inverno, para protegermos nossas mulheres e crianças e pelo território. A atualidade é muito mais cruel, onde todos devoram-se mutuamente pelo capital.

Um comentário:

  1. Talvez o 2LDM devesse mostrar o outro lado da história... a visão de quem ficou cuidando das crianças enquanto esperava alguém que não sabia se voltaria...talvez...
    Ótimo post!

    B.D.Q

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