quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sinceridade

Quando eu tinha uns 9 anos de idade e estava na 3ª série, a professora inventou de fazermos um amigo secreto no final do ano. A ideia da “cabeça-de-latinha” era desenvolver o lado sociável dos alunos ao escrever um cartãozinho para o tal amigo e pela troca de presentes (que era uma caixa de bombons).
O piá que se sentava na minha frente era a personificação perfeita do mala-sem-alça. Só fazia bagunça, abria a boca pra falar besteira bem na hora da explicação da professora, tirava sarro da menina que eu gostava bem na minha frente (ele não sabia que ela era minha “musa”), entre outras peripécias, e eu não falava nada. Como sempre fui muito comportado (acho que o termo correto é “tímido”), aquilo tudo me incomodava muito.
Por ironia do destino, tirei justo ele como amigo secreto. No tal do cartãozinho eu escrevi que lhe desejava um feliz natal, com muitos presentes e próspero ano novo (aquelas merdas que a gente escreve e recebe todo ano) e, pra fechar, que esperava nunca mais ve-lo.
Penso que aquela era a forma dele expressar seu gosto pela vida, de aproveitar a infância e, em parte, não merecia ter lido aquilo. Talvez hoje eu fosse menos ranzinza se tivesse levado a escola mais “na flauta”, brincado mais, zuado mais e falado mais besteira pras meninas.
Meus ataques de sinceridade são uma de minhas características que cultivo desde a infância, mas não de forma tão exacerbada. Quando esse meu lado se manifesta acabo por magoar, de forma involuntária, alguém ao meu redor.