quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Saudade

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua preferindo suco, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor, se ele continua cantando tão bem, se ela continua detestando o McDonald's, se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias. Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela esta mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler.


Por Miguel Falabella

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Soneto


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luis de Camões

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Noite


Eu amo a noite taciturna e queda!
Amo a doce mudez que ela derrama,
E a fresca aragem pelas densas folhas
Do bosque murmurando.
Então malgrado o véu que envolve a terra,
A vista, do que vela, enxerga mundos,
E apesar do silêncio, o ouvido escuta
Notas de etéreas harpas.
“A Noite” – Gonçalves Dias.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Punho cerrado


Ainda dando vazão aos sentimentos...
Não tentem entender, pois não faz sentido algum.
Mas de alguma forma serve como válvula de escape.

"Clenched Fist" (Sepultura - Qdo ainda significavam alguma coisa)

Pain, makes me stronger
Everyday
Life is chaos
You gotta deal with it

Expressing my agression
Through confusion
Face reality
Nothing is like it used to be

Don't tell me I don't know
You don't live in my war
Revolt and anger
I won't take it anymore

Don't get me wrong
You don't know where I'm from
Don't get me wrong
You don't know where I've been
Don't get me wrong
It's been a painful way
Don't get me wrong
You wouldn't understand

Soul / Mind / Fist
Soul / Mind / Fist
Soul / Mind / Fist

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Solitude


"No more, oh never more!" - Shelley

Cachorros

O texto a seguir, de autoria desconhecida, tem o título de “Nós mesmas transformamos os homens em cachorros”. Por incrível que pareça, foi escrito por uma mulher.

Tudo bem, queremos homens legais, sexys, tarados, bonitos, inteligentes e ricos. Muito fácil falar, pois quando aparece um assim, de bandeja, a primeira coisa que a gente pensa é: “Oba, me dei bem”. Ficamos com eles uma vez, duas. Começamos a pensar que esse é o cara que nossas mães gostariam de ter como genro. Se sair um namoro, será uma relação estável. Ele vai te buscar na facul, vcs vão ao cinema, a um barzinho, terá sexo toda semana... Tudo básico, até virar uma rotina sem graça. Vc olhará as meninas lindas e maravilhosas indo pra noite arrasar e morrerá de inveja. Sentirá falta de ouvir aquelas cantadas idiotas na noite, falta de dar umas olhadas para um gatinho, ou de dar aquela dançadinha mais provocativa na pista. Vc pensa: “Acho que não estou pronta pra isso”.
E o bom menino se transforma num mala. Aos poucos vai surgindo um nojinho, uma aversão. Quando tu vê o nome dele no celular não dá vontade de atender. JÁ ERA. Daí aquela promessa de vida estável vai por água abaixo. Se o cara não se dá conta, começamos a ser grossas, muito grossas. E o pobre menino pensa: “O que eu fiz?”. Coitado, ele não fez nada. A culpa é nossa mesmo. Aí a gente volta pra nossa vidinha, que odiávamos até duas semanas atrás. Não vemos a hora de sair e arrasar na noite. Grande ilusão... Vc chega em casa depois da balada, sozinha, e fica tentando descobrir porque não está satisfeita. De repente foi pq o cara da night, o lindo, gostoso, misterioso, ficou contigo, passou a mão, tentou algo mais, mas nem sequer pediu o número do teu telefone. Frustração.
Daí, por mais que não queira, pensa no menino bonzinho que deixou pra trás. Enquanto isso, o bom menino, chateado, lesado, custa a entender o que ele fez pra ter te afastado dele. A dúvida vira angústia, que vira raiva. Aí o cara manda tudo à puta que pariu...
Não quer mais saber de nada, só de pegar muita mulher. Resolve não se envolver mais, pra não sair lesado, chutado ou chateado. Muito bem, acabamos de criar um monstro, um cachorro.
O tempo passa e a gente continua na mesma. Volta a reclamar da vida e dos homens. Só queremos coisas com homens cachorros, que não estão nem aí pra nós. Eles são assim por culpa nossa. O nosso cachorro de hoje era o bom menino de outra ontem e assim sucessivamente. Provavelmente esse nosso ex-bom menino deve estar enlouquecendo a cabeça de outra por aí.
E agora, qual é a solução?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ainda uma vez, adeus

Peço humildemente esta licença poética ao nosso ilustre Gonçalves Dias para me expressar através de um de seus poemas mais notórios, cujo título é o mesmo deste Post.
Um pouco sobre o autor: Link 1 ; Link 2

I
Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!

III
Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp'rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!

IV
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.

V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!

VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!

VII
Oh! se lutei! . . . mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?

VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!

IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!

X
Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
"Seu descanso é obra minha."
Negou-me a sorte mesquinha. . .
Perdoa, que me enganei!

XI
Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!

XII
Enganei-me!... — Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!

XIII
Louco, julguei adornar-me
Com palmas d'alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
Co que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.

XIV
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!

XV
És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!

XVI
Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

XVII
Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

XVIII
Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, — de compaixão.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

The Show Must Go On...

Ainda não me sinto novamente inspirado a escrever, então deixarei este vídeo como fragmento de idéias e pensamentos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Aldeia Brasil

“Ê laiá!” Terá festa do cabide na minha oca! Estão todos convidados!
Os “conquistadores” caras-pálidas alemães principalmente! Mas só entra quem largar as calças no saguão do aeroporto.
Um “conhecido” mora com a esposa na Alemanha, afinal ambos são alemães. A mulher nunca pisou aqui e acha que todos nós andamos pelados, vivemos de coleta e somos nômades. Acho que farei uma dança-da-chuva pra ver se com um temporal daqueles essas pragas não aparecerão mais por aqui. Virou festa tirar a roupa em público! Mas também, não é para menos, né? Quem deveria nos representar com responsabilidade, principalmente aos olhos do mundo, não o faz. Com o desgosto de ver o Ruminante-Chefe desfilando com suas Havaianas (“As legítimas” – ou seriam “pirateadas”?) em frente a toda a imprensa na usina de dessalinização em Fernando de Noronha, o que as pessoas de fora não pensarão a nosso respeito? Dê-me licença só por um instante que vou ali fazer pintura de guerra no corpo para exaltar aos deuses e caçar para, em seguida, comer o coração da minha presa ainda quente e pulsante.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Desilusão


O que as pessoas fazem quando querem se distanciar umas das outras? A mandam embora, certo? Ou dizem coisas horríveis, justamente com essa finalidade. Sim, é isso o que elas fazem. Mas está errado. A tática não é essa.
O melhor modo de mandar alguém embora para bem longe é dizer que gosta da pessoa. “Eu te amo” é mais eficaz do que um tapa na cara seguido de “Vá embora! Não quero te ver nunca mais!”
O único problema é que os valores estão invertidos.
“Vá embora!” significa justamente isso.
“Eu te amo” significa que a quero o mais perto possível; os corpos distantes, porém com os corações muito próximos. E o mesmo brilho no olhar, como da primeira vez.
Modéstia à parte, sou muito bom em me expressar através de palavras [escritas], independente da situação. Exceto para os assuntos do coração.
Neste caso, uma imagem vale mais do que mil palavras.
Obs.: Aos meus caros leitores, que ultimamente andam visitando bastante este post, comentem! Nada melhor do que saber suas opiniões a respeito do que escrevo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Bancos

Abri minha primeira conta bancária aos 17 anos, quando era estagiário e a finalidade de tal conta era justamente receber a “bolsa auxílio”, que virou “salário” (ínfimo, mas enfim). Ao abrí-la, eu assinei toda a papelada e era completamente responsável por ela. Essa conta ficou aberta por quase seis anos e foi encerrada por mera burocracia pelo motivo de eu mudar de cidade. Abri outra conta no banco “Feito para você”, o mesmo daquela 1ª conta, ao chegar à nova cidade e, exceto por alguns contratempos por causa de uma funcionária loira completamente acéfala e incompetente, nunca tive nenhum problema.
Em compensação, as experiências com o banco “Completo” foram várias e desagradáveis. O salário, na 2ª empresa em que trabalhei, era pago por este banco. Nos primeiros 3 meses de trabalho, o pagamento era feito por uma conta especial e completamente desvinculada da minha pessoa. Servia apenas para pagamento. O cartão tinha a bandeira “Visa”, mas estava lá apenas para enfeite pq nunca funcionou, mesmo para compras no débito. Em várias ocasiões precisei fazer saques em caixas eletrônicos, mas não havia dinheiro nas máquinas. Na ocasião eu tinha 20 anos e, mesmo assim, o banco exigia que a papelada fosse assinada pelo meu pai e com firma reconhecida em cartório. Absurdo. Preferi receber em cheque nominal mesmo e ia depositá-lo no “Feito para você” durante o horário de almoço. Pronto, o problema estava resolvido, pelo menos comigo. Meu pai ainda teve que agüentar o pouco caso deste banco por mais alguns anos, mas até que enfim livrou-se dele há mais de 2 anos. Minha mãe ainda está agüentando-o e espero que por pouco tempo.
Tive algumas dores de cabeça com o “No Brasil e no mundo” devido à excessiva cara-de-pau do gerente que nem valem a pena mencionar...
Voltando para o “Completo”, ontem à noite mãe precisou pagar uma conta e resolvi ajudá-la a fazer via web. Após instalar diversos complementos “necessários” para abrir o site do banco, apareceu uma mensagem de erro referente à senha, depois que a conta não existe e, por fim, que a senha eletrônica está incorreta e que seria necessário entrar em contato pelo bankline. Entramos em contato via fone e provou-se igualmente inútil. Resumindo: fila de banco hoje só por causa de uma mísera conta.
Qual o benefício oferecido por estas instituições? Absolutamente nenhum. Ninguém merece essa burocracia e pouco caso. Infelizmente as empresas ainda teimam em fazer o pagamento em instituições financeiras medíocres.
“Bora comer capim com mandioca, galera! Pq aqui só tem índio”. E como todos sabem, manda o cacique com mais dim-dim no bolso...