Homem pardo na faixa dos 20 anos. É este o perfil de vítima preferida da Polícia Militar de São Paulo quando o assunto é matar. Digo o “perfil de vítima preferida” pq as mortes podem se estender também a homens negros e brancos, mais velhos ou mais novos (até os menores de idade entram na “dança”). Em alguns casos, mulheres também. Não entrarei no mérito da questão das causas e/ou consequências de tais atos. Vou apenas expor minha opinião, baseado na leitura do livro reportagem “Rota 66” do jornalista Caco Barcellos. Meus caros leitores poderão tirar suas próprias conclusões após a leitura do mesmo.
Já faz vários anos que Barcellos anda na companhia de seguranças armados. Dizem que é devido às revelações feitas no livro “Abusado”, sobre os bastidores do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Duvido. Conversando a respeito com várias pessoas, inclusive professores, a maioria concorda que é por temer represálias da própria PM, instituição que, por obrigação, deveria prover segurança ao cidadão (e não extermina-lo de forma covarde). Disso eu não duvido.
Nasci e cresci em São Paulo, capital, e sempre ouvia o mote de que “bandido bom é bandido morto”. A princípio até concordava, afinal qualquer criança quer viver num lugar tranquilo. Não posso reclamar da vizinhança, mas naquela época (anos 80) a cidade ainda passava por um “boom” populacional e a violência crescia na mesma proporção (continua crescendo até hoje). Nunca dei muita importância ao modo de atuação da PM até saber que numa noite, ao voltar para casa, quando meu pai ainda era adolescente (por volta de 1974), havia sido abordado por uma RP (Rádio Patrulha). Por ironia do destino, justo naquele dia, ele estava sem documentos e já levou uma “coça” dos gambés. A sorte dele foi estar perto de casa e passar um amigo do outro lado da rua naquele momento. Ao presenciar tal cena, o amigo correu para casa e chamou meu avô. No final das contas ficou tudo bem, mas poderia ter sido pior se a abordagem tivesse sido feita pela Rota. Deste episódio herdei o costume de levar meu RG até quando vou ao banheiro. Claro que estou exagerando quanto a levar o documento comigo ao ir “tirar a água do joelho”, mas não saio de casa sem ele.
Baseado única e exclusivamente na conduta da Rota, tenho a impressão de que suas fileiras são compostas por covardes dos mais lastimáveis. Explico. Cada viatura é composta por uma equipe de cinco integrantes armados com revólveres calibre 38 e metralhadoras (herdadas da época em que a polícia comum ainda enfrentava as guerrilhas em assaltos a bancos durante a ditadura militar). Bom, pelo menos era esse o tipo de armamento usado quando o livro foi concluído, em 1992. Armados até os dentes, por assim dizer, abordam aleatoriamente qualquer cidadão que desperte algum tipo de desconfiança por parte de qualquer integrante da equipe. Esta, por sua vez, tem o costume de já chegar atirando e perguntar depois. Detalhe: adoram atirar pelas costas, na cabeça (por trás) e na nuca. Não sei o que representa para vocês, leitores, mas pra mim isso é sinônimo de alguma frustração sexual, provavelmente por serem desprovidos de atributos que satisfaçam suas parceiras a contento. Ou, como disse antes, covardia pura e simples.
Apesar de os policiais afirmarem que só matavam “criminosos conhecidos” em tiroteios alegando legítima defesa, apenas uma minoria das vítimas tinha alguma morte nas costas. Não entrarei na questão dos números, mesmo pq não os recordo com exatidão, mas o grosso das abordagens seguidas de mortes dos cidadãos era de inocentes ou de já fichados por crimes leves. Os bandidões mesmo, peixes grandes, gozavam e ainda gozam de relativa paz (por também estarem armados até os dentes).
Corajosos foram aqueles que em tempos imemoriais lutaram por sua liberdade e contra a tirania, geralmente em menor número e com armas menos modernas, como as tribos bárbaras ao enfrentarem os legionários do Império Romano ou os gregos que, bravamente, resistiram nas Termópilas contra os exércitos de Xerxes, ou os escoceses liderados por William Wallace contra os ingleses; ou não necessariamente em menor número, como os índios Sioux enfrentaram a cavalaria do general Custer. Não menos bravos foram os guerreiros samurais que viveram e morreram pela honra ao trilharem o caminho da espada (Bushido). Estes, entre outros, são dignos de ostentarem medalhas e citações honrosas. O resto é apenas o resto.
Meu pai costuma dizer que não existe mais esse negócio de forte ou fraco e maior ou menor depois que inventaram a pólvora. Sou obrigado a concordar com ele, afinal qualquer zé mané com um “berro” na cintura se acha o máximo. E mais ainda os zé manés uniformizados. Em grupo e armados são os maiorais, mas e sozinhos? E desarmados? Só para citar um caso ocorrido há alguns anos na cidade de Curitiba, um policial da Rone (equivalente paranaense à Rota paulista, mas não tanto) foi fuzilado ao chegar em casa. Literalmente virou uma peneira e a PM estava louca atrás dos culpados. Não sei se foi triste ou se foi hilário, mas de acordo com os jornais eles não tinham a menor idéia de quem poderia ter sido, visto o método de abordagem da referida unidade.
Entusiastas do trabalho policial ou até mesmo puxa-sacos descarados podem argumentar que o salário da categoria é insuficiente tendo em vista a atividade que desenvolvem e, por isso, agem desta forma. Concordo plenamente que uma polícia melhor preparada, equipada e com melhores salários seria mais eficaz na repressão ao crime (e automaticamente na proteção ao cidadão comum), mas isso não justifica essa conduta típica de faroeste.
Onde está escrito que estes indivíduos podem chegar atirando e fazerem o que bem entenderem? O fato de carregarem uma arma de fogo e usarem uma carteira com a insígnia de policial não é justificativa. O trabalho deles é preservar a vida e levar o cidadão meliante à justiça para responder por seus atos. A arma está ali no cinturão apenas como medida preventiva.
Pode até ser que os PM´s ainda barbarizem o cidadão comum, principalmente o de classe média e baixa, mas não mais em todo e qualquer lugar. Por exemplo, há regiões na capital paulista onde a Polícia não se atreve a entrar (ou quando entra é para pegar o “arrego”). Ou quando aparece algum louco querendo fama de heroi, é rechaçado à bala. Ouvi relatos de que um único indivíduo, conhecido como “Menor”, armado com duas pistolas de 9mm e com carregadores de 15 balas cada, fez uma viatura do Tático Móvel (normalmente uma Blazer) recuar de ré. Os “coxinhas” nem se atreveram a sair do carro.
Infelizmente vivemos numa terra de ninguém, onde a lei beneficia apenas os ricos. Nas ruas impera a lei do mais forte. A criminalidade e a violência aumentam a cada dia, reflexo direto da (falta de) conduta da própria polícia (despreparada para desempenhar suas funções) e de um Estado corrupto. E o povo permanece onde sempre esteve, à mercê de sua própria sorte.
Mais detalhes sobre o livro podem ser encontrados aqui.
Mais detalhes sobre o livro podem ser encontrados aqui.
Repressão policial é real. Acontece com todo mundo que "bagunça".. No protesto pelo passe livre, ano passado, eles bateram na gente!
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