As aulas de
quinta-feira eram terrivelmente chatas, mas mesmo assim minha irmã, de 10 anos
de idade, insistiu muito para me acompanhar. O professor não tardou em começar
a divagar sobre gêneros musicais e, tão logo terminou, já nos empurrou um
documentário goela abaixo. Não havia passado nem 5min quando ela, morrendo de
tédio, pediu que eu lhe contasse uma história.
O príncipe Tomate
estava inconsolável na gôndola do sacolão por terem aprisionado a princesa na
gaveta-masmorra do castelo geladeira, do outro lado do bairro dos gigantes. Sem
saber como chegar até a princesa, o príncipe tomate apostou na sorte grande e
saltou dentro da sacola do primeiro humano que passou ao lado dele.
Por ironia do destino,
ou não, foi na sacola de nossa mãe onde ele caiu. Tão logo se pôs de pé, sentiu
uma forte pancada de alguns tomates caindo sobre si. Ao recobrar a consciência
reconheceu aqueles rostos vermelho arredondados: eram seus fiéis amigos e
escudeiros, os tomateiros reais.
- O que estão fazendo
aqui?, perguntou o príncipe.
- Não poderíamos
deixá-lo resgatar sozinho a princesa tomatina – disse o mais gordo deles –
afinal, esta terra de gigantes é muito perigosa.
- Não sei o que faria
sem vocês, queridos amigos – disse o príncipe, tentando disfarçar o medo
lancinante.
Os tomates
esconderam-se no fundo da sacola e esperaram pacientemente a chegada em nossa
casa para só então pensarem num plano de resgate.
A agonia era grande,
mas mesmo assim fingiram-se de mortos enquanto eram todos lavados e posicionados
lado a lado sobra a tábua de cortar carne. Alguns instantes depois era a vez da
princesa tomatina ser lavada e posicionada ao lado deles.
O gigante-mor estava
preparando o almoço da família quando a mãe chegou do sacolão e anunciou
alegremente: “Teremos macarrão para o almoço de hoje!”, disse.
- O que faremos, meu
príncipe? – perguntou um dos tomates.
Tarde demais! Todos
foram colocados em água fervente para serem cozidos e feitos em molho.
- Nossa! Essa história
me deu fome – disse minha irmã – vamos sair mais cedo pra comer algo antes de
voltarmos para casa?
- Vamos nessa! Também
estou com fome!
E fomos embora,
felizes da vida, por finalmente deixarmos aquela aula chata para trás e por
preenchermos nossos roncantes estômagos.