Meu primeiro emprego, logo que mudei para Toba´s City, foi como técnico de manutenção em fotocopiadoras, também conhecidas como “máquina de xerox”. Não necessariamente dessa marca, mas sim da concorrente.
Num dia qualquer precisei ir até uma cidade do interior para instalar duas dessas máquinas de médio porte na biblioteca da Universidade Estadual da tal cidade e outra no Hospital Universitário, também pertencente à Universidade. Naquela época eu ainda queria fazer Medicina e a infeliz coincidência foi que o local de instalação da máquina ficava justamente na salinha de xerox dos alunos de medicina.
Estávamos eu e um colega montando a dita cuja quando soa o sinal do intervalo e os alunos invadem o corredor estreito, nos olhando de cima a baixo com ar de desprezo como se fossemos insetos que precisavam ser esmagados naquele momento. Eis que surge o representante de sala de uma das turmas e começa a discutir conosco para saber com quem ficaria a renda das fotocópias, uma vez que estava sendo destinada ao fundo da formatura ou sei lá eu onde eles pretendiam enfiar a verba. Fumar ou injetar, talvez.
“Sei lá, cara. Só estou montando a máquina”. Hunf. Pra que?
O piazão rodou a baiana pq precisava saber pra onde iria a verba. Ignoramos e continuamos montando a bagaça, até que o intervalo acabou e as pragas se dispersaram. Aquilo me ferveu o sangue de tal forma que, para minha sorte, já haviam acabado as aulas daquele dia, senão eu teria mandado meio mundo ir lamber sabão. Não necessariamente com esta cordialidade.
Saquei uma folha da resma e comecei a escrever um manifesto sobre a profissão de médico, meus anseios e receios. Resumindo, deu uma folha inteira (tamanho A4) escrita à mão. Fiz questão de assinar com nome completo, coloquei meu e-mail e pendurei no quadro de avisos de uma das salas.
Vc´s, caros leitores, me enviaram algum mail sobre o tal manifesto? Pois é, nem eles. Bando de alienados.
Tentarei resumir as idéias principais do tal manifesto logo abaixo:
O problema das faculdades de medicina é que grande parte dos alunos deste curso não estão lá pelo amor à profissão, ao próximo e pela possibilidade de melhorar/salvar vidas. Estão lá apenas pelo status social que ela oferece. E o aluno de classe média, que ama a profissão, independente do status, está se fodendo em algum cursinho da vida pra tentar vaga numa instituição federal, já que em instituição particular simplesmente não tem como pagar.
Sabe quando vc está passando mal e vai até o hospital e/ou posto de saúde? O médico nem olha pra vc e já diz que é virose ou dor muscular. Virose ou dor muscular de cu é rola! Pode crer que quando diz isso ele não tem a menor idéia da causa do seu mal estar. Sabe pq? Pq esse era um daqueles alunos medíocres que estavam mais preocupados em ir pra balada e chapar o côco do que em estudar. Meu pai costuma dizer que, não importa o que façamos, temos que ser os melhores naquilo. Pois bem, quer fazer medicina? Então seja o melhor. De médicos medíocres já estamos saturados.
Para ajudar essa playboyzada alienada a por os pés no chão, deveria ser obrigatório o trabalho voluntário em comunidades carentes pelo tempo mínimo de seis meses como pré-requisito básico para concorrer a qualquer vaga de residência.
Ser médico não é ter o rei na barriga e se achar o máximo.
Independente da sua religião e não importando o quão bom profissional vc seja, o ato de praticar a medicina não é vc intercedendo pelo próximo, mas sim servindo de instrumento divino. Quem opera é Deus. O médico só empresta a mão.
Quanto à questão financeira, a profissão pode até prover algum tipo de conforto e regalias materiais, mas quando se é médico por amor, pelo bem estar alheio, não há dinheiro no mundo que pague um sincero “obrigado, doutor” vindo de quem realmente precisa.
Dedico o post a uma bloggeira aí, recém formada, que vive em sua cúpula de cristal cor-de-rosa e ainda tem muito o que aprender sobre o mundo real.
Há 10 anos
.....Virose ou dor muscular de cu é rola.....
ResponderExcluirfrase sagrada que se encaixa em tudo!!!!!huahua